Entre os dias 16 e 19 de Agosto de 2022 na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
O ano de 2022 promete ser um annus mirabilis, com muitas datas históricas dignas de comemorações. O Fórum Internacional Cinemática IV pretende integrar a programação do projeto Ciclo22, proposto pela Reitoria da USP que remete à reflexão sobre quatro grandes marcos (1822, 1922, 2022 e 2122), congregando iniciativas com o objetivo de tratar criticamente o bicentenário da independência do Brasil, o centenário da Semana de Arte Moderna e o movimento modernista no Brasil, bem como sobre o tempo presente, e de identificar desafios e de projetar futuros ao Brasil nos próximos 100 anos. Estes serão momentos bastante oportunos para fazermos uma discussão sobre a nossa história, criticando erros e buscando repetir acertos, mas sem jamais apagar da memória os fatos importantes.
O audiovisual é uma ferramenta fundamental para o registro e a criação de arquivos históricos que sempre poderão ser vistos e revistos. Em tempos de pós-verdade, a nítida representação da identidade e da diferença pode ser vista como um requisito indispensável que forneça as bases operativas para a distinção entre ilusão e imagem informativa – e assim garantir a validade das construções representativas que é o principal sustentáculo e a razão de ser das imagens em movimento, atualmente presentes em todos os lugares, ocupando espaços reais e virtuais. O cinema e a fotografia não estavam presentes nas três noites memoráveis do Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922. Entretanto, pouco tempo após o evento, a revista Klaxon, Mensário de Arte Moderna, começou a circular, trazendo artigos de crítica cinematográfica assinados por intelectuais de peso como Mário de Andrade e Guilherme de Almeida. Sem sombra de dúvida, é através das principais obras da literatura e peças teatrais publicadas por escritores do movimento modernista, como Mario de Andrade e Oswald de Andrade (entre elas, Macunaíma e O Rei da Vela), que se esboça, no teatro e no cinema, os parâmetros de uma nova abordagem visual do Brasil e que mais tarde darão origem ao movimento tropicalista na música popular brasileira e ao uso da linguagem alegórica no cinema, forma de se burlar a censura ditada pelo Regime Militar aqui instaurado. A semana de arte moderna de 1922 e seus autores são a origem de tudo, do pensar e do representar a realidade brasileira. No cinema, outras vanguardas ainda estariam por vir, antecipadas pelo filme Limite (1931) de Mário Peixoto e pelas produções do genial cineasta mineiro, Humberto Mauro. Para os cinemanovistas, Humberto Mauro representa o nascimento de um cinema brasileiro e do nascimento de uma brasilidade, impressos de forma magnífica na obra do cineasta.
O Cinema Novo emergiu nos anos de 1960 como um verdadeiro tour de force na história do cinema brasileiro, em um país a procura de sua própria identidade, alinhando o nosso país às novas vanguardas europeias naqueles anos de rebeldia, ao mesmo tempo que, – pela primeira vez em nossa história -, coloca em cena o povo brasileiro, a partir de um novo tipo de olhar e de um novo tipo de estética, dramaticamente representada no texto de Glauber Rocha, Estética da Fome (1965). Na década de 1970, o cinema marginal concentra-se na região da Boca do Lixo, região central da cidade de São Paulo, que, na contramão do cinema feito pelo grupo do Cinema Novo em termos de linguagem, abraça também a mesma estética da precariedade, lançando diretores para a posteridade como Ozualdo Candeias, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci e Rogério Sganzerla. Novas propostas estéticas e de linguagem surgem em filmes da importância de A Margem (1967) de Ozualdo Candeias e O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla. De lá para cá as inovações do digital na área de produção de filmes não param de suceder, ganhando em sofisticação técnica e na democratização das imagens em movimento, ampliando a sua capacidade de abrangência na diversidade dos temas e em seus possíveis narradores. Os povos indígenas ocupavam este território muito antes de nós, mas somente agora, com a ajuda da tecnologia digital, estão sendo capazes de vencer o apagamento e a distorção de sua imagem por meio do audiovisual, que ganhou acessibilidade e colocou a câmera ao alcance da mão desses povos originários. Enquanto, finalmente, a negritude ganha o seu espaço e a sua identidade através das múltiplas telas do audiovisual brasileiro, dando lugar a novas formas e cores que nos falam sobre a presença do negro em nossa cultura. Ao mesmo tempo, eis que emerge nos grandes centros urbanos uma nova voz, a da vanguarda periférica, que em tempos de pós-cinema reafirmam sua essência em vídeos musicais que confirmam a sua identidade. Seguramente essas manifestações merecem ser apreciadas e analisadas nesta quarta edição do Fórum Cinemática.
Como parte da programação do Ciclo 22, o Fórum Internacional Cinemática IV: Brasil em tela: Modernismo, vanguardas e o cinema, é um evento de formato híbrido, tanto presencial como virtual, que pretende incentivar uma reflexão aprofundada sobre a história do Brasil através de seu cinema como ferramenta de afirmação de identidade do povo brasileiro, com uma mirada acurada sobre às questões da linguagem cinemática, contando com a participação de grandes especialistas nacionais e internacionais.
Saiba +
IV Fórum Internacional Cinemática
16 a 19 de Agosto
Formato híbrido: ECA-USP (Sala Lupe Cotrim, Cidade Universitária – Butantã-USP) e https://www.youtube.com/c/ECAUSPOficial
Programação completa: clique aqui.